quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

MINHA FORÇA ESTÁ NA SOLIDÃO.NÃO TENHO MEDO NEM DE CHUVAS TEMPESTIVAS, NEM DE GRANDES VENTANIAS SOLTAS, POIS EU TAMBÉM SOU O ESCURO DA NOITE.
CLARICE LISPECTOR



Brindo a chegada do ano novo como brindo a espera do filho que nasce, lindo,branco e de bom peso.Enquanto prevejo a perfeição, compreendo que a ilusão não se restringe ao alcance dos meus olhos,mas sem consentimento, ultrapassa a barreira da minha fértil imaginação, e fico na espera.
Olho o futuro e atribuo toda felicidade despejando as minhas futuras satisfações, rabisco o projeto, desenho a idéia no grafite da incerteza.
Preciso tirar as caixas do armário, uma a uma. As maiores e mais pesadas deixo para o final, já que são nas pequenas que escondo as verdadeiras relíquias e normalmente são essas que finjo esquecer.
Se abro as caixas ansiosa , me ofusca a visão e não consigo enxergar, apenas ver. Se são muito antigas o pó acumulado não me deixa respirar, sufoca e mata. É duro fazer a arrumação! Cansa,desprende de tempo e vontade.Limpo o quarto, lavo as cortinas e arrumo a cama para receber a criança. Ela vem do espaço do tempo, até a materialização da razão. Desce a trilha do coração que é aquela onde estão os maiores abismos e estradas estreitas, contando com a localização que também é incerta. Caminho árduo.
Se a solidão da caminhada parece escura e a floresta parece não ter fim, logo alguém lhe lembra que é só olhar para frente que logo avistará os fogos de copacabana e todos serão felizes para sempre. Não importa se as luzes são produzidas para iludir e a felicidade comprada para engrandecer . O importante é festejar a chegada!
Vamos sorrir, vamos chorar e cantar!!!! E amanhã acordar com uma puta dor de cabeça.E nessas horas eu vejo que sou uma feliz popular! que caminha tres vezes na semana pela mesma estrada a procura do mágico de oz! E quando me canso tenho um principe encantado que me carrega no seu cavalo branco para que eu não deixe de ir.

Amo vocês pelo simples fato de existirem, amo os que me amam, amo os que não me amam e aqueles que ainda vão me amar!Pois se só existe a morte para valorizarmos a vida, vocês são a minha morte particular.

E que venha 2011!!! branca , negra, de qualquer peso!E bem na verdade, não precisa ser tão bonita assim, desde que tenha dignidade e que nasça com os olhos abertos para enxergar toda a beleza.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ir

Não sei ler, tentei aprender por milhões de vezes mas as letras embaralham e as sílabas não se formam.Talvez devesse ter aprendido a escutar as palavras e copiar, mas sou surda por opção.Se pudesse escutar todas as formas que as vozes tomam teria que pensar demais e tenho preguiça da idéia, me cansa a repetição.
Moro em um corredor,porque o sentido de viver ali é a passagem.Se somos feitos para chegarmos a algum lugar, pelo menos sabemos que se não formos muito longe, ainda assim,chegaremos ao fim.
Não comando meus sentidos, preciso me sentar diante do espelho e conseguir respirar. Sinto cheiro das laranjeiras e vejo as cores que você me deu,apoio as mãos, encaro os vultos, absorvo os sussurros. Dislexia.
Corro de uma maneira performática, na maioria das vezes ensaiada. Equilibro as projeções diante da profundidade da imagem e sobressaio no som,na velocidade do cometa.
Gosto das nuances em bolhas de sabão,livremente dão sentido ao contorno e criam. A arte de criar é o duto da vontade de expansão e as bolhas se espalham de uma maneira sutil e elegante. Sempre existiu em mim a tentadora vontade de encostar o dedo na bolha e vê-la sumir diante dos olhos em questão de segundos,como se pudesse reter o brilho dentro do meu poder de permissão. Permitir a alguém e permitir-se sempre foi a coroa do Rei,difícil e libertador como ficar nú em frente a multidão. Talvez seja a melhor forma de ir ao encontro de si mesmo e flutuar.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SUTIL.

Já faz um bom tempo que não apareço por aqui, não enxergo as linhas e nem reconheço as palavras, talvez esteja ibernando idéias em forma e quantidade que nem eu mesma entenda ou justifique qualquer desvio de orientação. A palavra precisa ser dita , porque no momento em que nasce é digna e fiel ao pensamento original, e daquele instante toma posse do que é seu por direito, e te atira no infinito das conjecturas.Sugere.


 
Talvez não tenha dito nada nos últimos meses simplesmente por não ter nada a dizer, mas inexplicavelmente tive a sensação por vários instantes que tudo caberia dentro das vírgulas se parasse para deixar sair. E não parei. Saqueei o verdadeiro sentido por não deixar sair, daqui, de mim para fora no segundo. Já não adianta tentar relatar nada ,tudo se espalha e não deixa vestígios, é perda de tempo, frustrante plágio de si mesmo, união ilegal de pensamentos por saber que o que foi não é, e o que seria jamais saiu de tal ilusão . Estática.

 
Sempre tive medo de morrer, nunca admiti o esquecimento, e a morte nada mais é do que absoluto esquecimento em forma do mais profundo vácuo.É a solidão cruel da falta de alternativas, a impotência da mudez e o desespero de uma caminhada sem atrativos.É o medo do impulso do desprendimento totalmente ofensivo, é a quebra dos acordos, é a luta contra os gigantes invisíveis, é o estouro dos balões, acabando com a graça.

 
Nunca carreguei histórias e nem pessoas, fecho as portas de minha vida toda vez que assumo consciência de que passei por elas.Morro a cada dia uma morte consciente no deixar para traz, e vou seguindo na direção e na velocidade estabelecida.Consigo separar os meus “eus” que me pertenceram, como se fossem velhos amigos que marcaram época, e quando olho no espelho penso que já estão longe e certamente ao passarem por mim na rua não os reconheceria. Estranhos, com outras idéias , opiniões e gostos tão divergentes de mim!!Diria a eles que não temos nada em comum e que minhas prioridades mudaram, nossas vidas seguiram rumos diferentes, dentro do mesmo peito.

 
Sou levada pelos cheiros!! E se existir generosidade na hora da partida que eu possa leva-los comigo, assim como a criança que leva seu baldinho de brinquedos a praia, onde constrói os seus castelos. Certamente já terei cavado todos os meus buracos e o castelo será a última esperança da redenção.

 
Se pudesse ser mãe talvez deixasse a flor da obrigação comprida no jardim da vida, como um poema que se escreve, e quando chega ao fim, sabe-se que deixou plantado ali a parte de si para o mundo. Mas não é questão de poder, eu não quero!! , Por simples egoísmo de generosidade, o tempo que me foi dado é meu e realmente não consigo dividir, não sou tão bonita e não faço parte das mulheres que fazem o tricot, acho que nasci do avesso e a moeda da minha ilha particular muitas vezes me custa caro, mas a escolha continua valendo até quando a juventude me permitir. Egoísmo e vaidades são privilégios de quem não vê a flacidez dos ideais chegando, até porque quando tudo cai o mais digno é mudar de opinião..