quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Não sei ler, tentei aprender por milhões de vezes mas as letras embaralham e as sílabas não se formam.Talvez devesse ter aprendido a escutar as palavras e copiar, mas sou surda por opção.Se pudesse escutar todas as formas que as vozes tomam teria que pensar demais e tenho preguiça da idéia, me cansa a repetição.
Moro em um corredor,porque o sentido de viver ali é a passagem.Se somos feitos para chegarmos a algum lugar, pelo menos sabemos que se não formos muito longe, ainda assim,chegaremos ao fim.
Não comando meus sentidos, preciso me sentar diante do espelho e conseguir respirar. Sinto cheiro das laranjeiras e vejo as cores que você me deu,apoio as mãos, encaro os vultos, absorvo os sussurros. Dislexia.
Corro de uma maneira performática, na maioria das vezes ensaiada. Equilibro as projeções diante da profundidade da imagem e sobressaio no som,na velocidade do cometa.
Gosto das nuances em bolhas de sabão,livremente dão sentido ao contorno e criam. A arte de criar é o duto da vontade de expansão e as bolhas se espalham de uma maneira sutil e elegante. Sempre existiu em mim a tentadora vontade de encostar o dedo na bolha e vê-la sumir diante dos olhos em questão de segundos,como se pudesse reter o brilho dentro do meu poder de permissão. Permitir a alguém e permitir-se sempre foi a coroa do Rei,difícil e libertador como ficar nú em frente a multidão. Talvez seja a melhor forma de ir ao encontro de si mesmo e flutuar.